Tentando entender o desamor
Beijão,
Isabela – A Divorciada
Tentando entender o desamor
Nós nos conhecemos no comecinho de 2007 numa festa de amigos em comum na minha cidade. Ele morava em outro lugar, a 6 horas de viagem. Eu estava passando por um momento muito bom comigo mesma, feliz de verdade, tranqüila. Talvez pela primeira vez em anos. E do alto dos meus 27 anos recém-completados, tinha parado de procurar o tal do amor. Deixei de me importar, depois de tantos pseudo-relacionamentos que foram por água abaixo. Se o amor quisesse alguma coisa comigo, teria que me encontrar. E foi o que aconteceu: o dito cujo me encontrou livre, leve e solta na tal festa...
A partir daquele dia, tudo mudou completamente na minha vida. Não teve jogo de cena: automaticamente, nós estávamos um a fim do outro. Aquilo, para mim, era “o encontro”, algo épico – afinal de contas, ele tinha tudo o que eu mais queria, e mais um pouco. Estávamos os dois deliciosamente perdidos, da forma mais apaixonada possível. Mas, ainda assim, as coisas aconteceram no tempo certo: depois de algumas viagens, muita sintonia e longuíssimas conversas pela internet, dois meses depois nós estávamos oficialmente namorando, com direito à apresentação para amigos e família.
E, pela primeira vez, eu ouvi “eu te amo”. E também disse pela primeira vez.
E foram dois anos e meio de um relacionamento muito feliz e intenso, apesar da limitação geográfica. Nós nos dávamos muito bem, sem brigas, sem discussões, com muita confiança, muito contato diário, muito carinho, muita liberdade para ambos, muito amor. E muita cumplicidade, eu imaginava. Mas os acontecimentos mostraram que não era tanta assim.
Um dia, depois de ter ouvido várias vezes “quero muito viver junto com você” das mais variadas formas, surgiu o acontecimento que poderia realizar nosso sonho: consegui uma entrevista muito promissora na cidade dele. Algo que tinha tudo para dar certo. Naquele momento, senti uma picadinha de insegurança: será que era uma boa deixar para trás um trabalho do qual gosto muito, numa empresa em que sempre quis trabalhar? E então resolvi conversar abertamente com ele sobre esta oportunidade. Perguntei o que ele achava da situação, se estava pronto para uma mudança tão grande em nossas vidas, se achava que era o momento certo para isso. E ele foi enfático ao dizer que aquilo era o que ele mais queria na vida, que tinha certeza absoluta de que gostaria de partilhar a vida comigo, que estava super empolgado, mas que queria me deixar à vontade para fazer minhas escolhas. E que ele entenderia caso eu optasse por não ir.
Pra mim, aquilo foi mais uma declaração de amor. E se eu ainda tinha alguma dúvida se ia encarar a entrevista ou não, ela desapareceu. Liguei na hora para a empresa e disse que topava, sim. E então a entrevista foi marcada para uma segunda-feira cedo. Desta forma, eu viajaria para lá e passaríamos o final de semana juntos. E foi um final de semana delicioso, onde ele inclusive me ajudou a preparar os trabalhos que eu apresentaria na entrevista e disse coisas muito importantes para mim. Falou que era muito feliz quando eu estava por perto e perguntou se eu sentia o quanto ele era apaixonado por mim. Sim, eu sentia. E retribua com o meu melhor amor, aquele que a gente cultiva com todo o empenho do mundo.
A resposta da entrevista sairia apenas 20 dias depois, por conta das férias de um dos gerentes da área. Neste espaço de tempo, as coisas pareciam estar absolutamente normais entre nós, mas... Não estavam. Três dias antes da data esperada para a tal resposta, notei que ele estava estranho, meio distante. Resolvi abrir espaço para saber se tinha algo errado, e em uma conversa pelo telefone, ele disse que estava se sentindo vazio e que não sabia mais se sentia algo por mim. Disse, inclusive, que estava “completamente apaixonado pelos finais de semana que passava sozinho”. E pediu para eu me distanciar totalmente nos dias subseqüentes, pois ele precisava pensar. Uma semana depois ele veio para minha cidade apenas para dizer, de forma tensa e fria num quarto de hotel, que não queria mais nada comigo e não me amava mais. Que tinha certeza absoluta do que estava fazendo. Tentei argumentar se aquilo não era apenas uma fase ruim do nosso namoro, que todo romance sofria com altos e baixos, mas ele sequer deixou que eu apontasse alguma porta aberta. Chegou a dizer, com crueldade, que continuou me tratando bem e dizendo que me amava porque sentia “culpa”. Não quis ir até a minha casa, não quis carona, não quis contato, não derramou uma lágrima, jurou que não tinha conhecido ninguém. No mesmo dia, sumiu de todos os lugares onde tínhamos vínculo na internet e bloqueou meu contato no MSN, nosso maior canal de contato diário. E, depois desse dia, há exatos 3 meses, nós nunca mais nos falamos.
As únicas informações que tive foram por intermédio da ex-sogra, por quem sempre tive um grande carinho. Não existe outra pessoa (não até agora). Ele se isolou durante um tempo, emagreceu muitos quilos, foi fazer análise. Mas não quer falar sobre o assunto e pediu para que a mãe não fale mais sobre mim e sobre a nossa ruptura. E assim terminou o relacionamento que eu acreditava ser o último da minha vida: com um desamor que aconteceu da forma mais repentina possível. Agora, minha maior missão é tapar o buraco da tristeza e da ausência, e recuperar a auto-estima que existia lá no primeiro parágrafo.
Marcela